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terça-feira, 17 de março de 2009

Passagem


Foto de Willians Valente


















Olho prum lado, olho pro outro e encaro você, pode contar dois dias ou cinco mil anos. Essa corrente presa aos pés com que me arrasto vagando pelos trilhos do metrô, a mercê do vento que sopra do túnel e enche os meus pulmões.

Guardas, guardas. Um anel ficou na Lusitânia, quer dizer, passas e figos abocanhados às pressas no canal de la mancha de sangre, o estômago vazio preenchido assim, meu jardim tropical demarcado, a história adelante, cara, eu fiquei só.

Dias de Glória


Foto: Sebage












Os dias dramáticos da luta pela liberdade na terra, na água e no ar, na mente, no sangue dos ancestrais: Calabar, o deus morto, o herói a ferro e fogo lá atrás. Dias mágicos, dias práticos, grandes fantásticos dias de guerra atingindo a carne: o fio da navalha, a correnteza, ó Manguaba, ondas vão e vêm sob os motores, os braços dos meus amores, meu rio, meus super-heróis.

O barco atrás afundando em chamas, a vida clama incerta, um canto fúnebre no alto da colina, o grito de guerra cá embaixo, meu próprio coração um tambor: esqueço o tempo, o espaço onde estou, a vida tem sabor de cerveja, e a recompensa do banho livre, no fim da estrada, a estrada do rei, meu rei, sabe o quê mais, esses dias são gloriosos!

Amon-Rá queimou meus Cabelos


No estúdio do Jorge, Pinheiros, São Paulo, foto de Willians Valente
















Amon-Rá que arrasou meu castelo infantil
Elevando a temperatura à passagem do diabo
Queimando minhas calças, oh, yeah
Cercando minha vergonha num ardil
E o pudor e a minha alma

Fui agitar-vos àquela noite (Shake it! Shake him!)
E o sol que me ressecava os cabelos
Não impedi, oh, darling, que partísseis
– Pardon, mon soleil!
À tarde, que havíeis dormido, ao acordares implorei
Não infligi célere pena a vossa memória
Pois foram desvelos somente
Ritual premente de noite transitória
– Segundo tempo, intervalo: comece tudo de novo
(Eu sei que estou ferrado, ma, dio, come ti amo!)
Okay, ninguém morreu...

“Sebage, meu amigo”
“À noite, não faça mais isso comigo”
Então de dia, curumim, podia?
Também não devia
Tá bom, tudo bem
“Eu te amo, neném”