domingo, 6 de março de 2011
(4) Corpus Christi
Inexatamente, a cada passo que dou, não pelo fio da calçada e sim à margem da rua, prestes a cair no buraco. É dessa forma que vivo, como se não houvesse um leme, um freio, uma direção: Há uma direção que é deus e por ela me conduzo alegremente: assim não caio no buraco, pulo, salto, corro e danço no asfalto. E por esses caminhos de terra, várzeas e rios e lagos: E pelo ar, no fundo do mar também em que me lanço como âncora antiga e pesada, cheia de sinuosidade: e de uma maldade preciosa que é crosta, ferrugem e resistência. Graças a deus, graças a deus estou vivo, mesmo caminhando assim de sobressalto, turvo, girando em torno de si mesmo como um peão louco e infantil, fazendo graça, cativando as pessoas e mimando elas: E irritando outras, arrancando a pele de uns em carne viva.
(3) Doce Vida de Regalo e Prazer
Assustada e perdida na vida
A essa altura da vida
E ele lá do outro lado do rio, plantando banana
Cheio de compostura
Ela também cheia de vida
Mas perdida, esperando ele passar
– Ele vai te amar um dia, querida
Pode apostar, vai ser bom pros dois
Então ela se pôs a criar, fazer crochê, tricô
E plantou rosas
Ah, as mulheres, elas só querem amar
E gostar muito de você, pode apostar
Então o mundo deu passagem
Ela voltou a olhar pra frente
As bananeiras deram fruto
O astral mudou, o dinheiro entrou
Tornaram-se casal, ela aqui
Ele do outro lado do rio
Pescando tilápias, arriscando a vida na noite
Bêbado feito um gambá
Gostoso, que bebedeira gostosa
Ele tomando todas, sem ligar
Ela junto, cuidando
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