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terça-feira, 20 de julho de 2010

Os Coelhos de Lena (Rumo à Essênia ou Joguei Metade de Mim no Lixo)


Ian Astbury é deus: The Cult, no Olympia, São Paulo, foto by Gustavo Lourenção
















Atirei a pedra no rio e veio aquela sensação
De vertigem – vertigem total
De velhice estrangulada pela quimera do tempo
Alcei vôos inacreditáveis
Na encruzilhada dos dias marcados
Pela velocidade do vento batendo na cara

Somente quando estava jogado entre as pedras
É que descobri a estupidez disso tudo
Como os dissabores caindo aos trancos e barrancos
Das portas fechadas e da crueldade
Empertigada no fígado... Assim, pois não
Joguei metade de mim no lixo

Por favor, me deixe em paz, as minhas vísceras disjuntas
Me deixe aqui, caçando
Os coelhos de Lena – rumo à Essênia
(A gente religiosa) Vamos rezar, por deus, vamos rezar
Depois, quando não restarem poemas nem emblemas
Entramos em cena outra vez

E pedras rolem sobre o meu cadáver... Assim, pois não
Os mosquitos da gruta colados na pele defunta
Minha vida toda esse alarido de gritos – já não dá mais certo
Coitado de mim... E dos coelhos de Lena
Joguei-os também no lixo...
No final, pouco se aproveitava mesmo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mais Corações Loucos

Os Corações Loucos

Dewaere, Dewaere...

Déjà Vu



Patrick Dewaere, Miou-Miou e Gerard Depardiu: mágica





Letra da canção













Jeanne Moreau
Brigitte Bardot
Esta noite Miou-Miou me chamou
"Vem cá meu cavalinho azul"
Não – eu disse – e Bardot?
Ela falou
“Oh, oh, oh, oh, baby, já passou”
Jane Fonda também déjà vu
Miou
"Mon cher"
Plaisir d’amour
Moreau, Bardot
Henriette Morineau
Elas estão mortas
Atravessaram a porta
Eu não
Eu estou muito viva
Embora torta

Dewaere por Raphael


O atormentado Dewaere se matou em sua casa, em 1982, disparando um tiro na cabeça

Os Corações Loucos


Pausa para o cinema: uma incrível viagem com Depardieu e Patrick Dewaere (1947-1982), "Os Corações Loucos" (1974), de Bertrand Blier

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Amigos e Amantes
















Doce amigo, gentil cavalheiro, eu estou encantado...
– É o amor de amizade que um cara tem somente por outro cara!
O cara é igual ao outro cara, amigos são assim: um é suave e o outro cúmplice. Um mistério, amigos não guardam segredos.
O telefone: “O que houve?” Um ritual de amor possível: novos amigos, amigos para sempre: “Não houve nada, graças a deus, só liguei de saudade.”
Que bobagem.
Meu desejo, meu amor eternamente. A expressão do amor: inédito. Eu estou mais tranquilo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Apenas a Minha Vontade contra a Coisa


O pequenino lá no meio sou eu...








Vontade fixa viva ativa
Como tua parede rígida albatroz alcatraz
(Atroz e fugaz) Atrás de alguma coisa maneira e sólida
Como o mal adiante do capataz

Estarei morto um dia desse jeito
Pelo seu reto incerto esperto jeito de ser
Meu concreto apartamento deserto
Meu completo desolamento
Ou meu possível afogamento e até um sufocamento
Vontade fixa pra não perder a vontade própria finalmente
Por coisa nenhuma

Parei com a Putaria















A vida chega a um ponto de partida novamente, o mundo deu a sua volta, nós acabamos com essa farsa e eu parei de mentir pra mim mesmo me entregando ao sexo. Parei, pensei em você como objeto romântico: já rolou sexo, agora, é romance.
Então chego ao ponto, à questão, de novo. Andei me cobrando muito, mas, também, andei aprontando muito, bêbado por aí. Quero o romance, um caso sério, vamos ver o que vai acontecer.
A vida ganha outro tom, outro sabor, fiquei muito chateado e carregado, o mundo inteiro sobre as costas, deus, mamãe, os meus irmãos, e meus amigos então, mas eu parei. Vontade de começar tudo outra vez, fazer cumprir uma profecia, realizar sonhos, sei lá.
O mundo girando, você esboçando um lindo sorriso e eu, propiciando, favorecendo o acontecimento, vamos ver, realmente, agora, nem pensar em putaria, banhos de rio, mulheres, cachaça (vodca). O ponto de partida aqui, este momento, de acordo com a lei: vamos recomeçar.
Então, quer me namorar?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Diva


Letra da faixa gravada pelos +jesuítas+, in memoriam de Luciana (foto: Vinícius Lopes)














A cruz e a entrega eram dela
Deusa ad infinitum
Diva dos apóstolos na Antiguidade
Hoje, musa plena
E cá estou a falar dela
Arrebita, arrebita, menina
Drogadita, fina, culta, linda

Que me dizes, donde estás?
Donde estás, mi vida?
Podeis dizer
“Meu querido, você queria que eu fosse aí lhe dar um beijinho”
Querias que eu fosse até aí
A cruz era dela

terça-feira, 6 de julho de 2010

Longe sem saber de Você


Quatro ou seis semanas sem lhe ver, sem ter mais nenhuma notícia sua, por um engano meu, sem número de telefone, sem o celular... Eu sei a cidade onde lhe encontrar, quero ir lá, passear, procurar por você, lhe esperar num bar, conversar com um e com outro e perguntar, “onde ele está”, ficar por ali na incerteza, uma hora você chegava e entrava e olhava pra mim – surpresa: “Ei, me paga uma cerveja!”

Pedaço de Mim


Anos 1990










Uma parte de mim que se foi
A outra aqui, dilacerada
Então, meu irmão
O que lhe restou além dos anéis?

– Chove na praia
Só porque estou aqui... Chato
Eu num tô nem aí

– Meu prato, arroz com feijão
A outra parte aqui
Meu consolo é você... Quem é você?
“Eu sou, eu sou...”

Uma parte de mim... Oh, nem sei onde estou
Será que ainda posso voltar
E ser o que era?

Depois da Cheia


Piscina, foto by Gal Monteiro, 1981










Depois de ter passado por tanta coisa ruim, tanto desassossego e o medo de crescer, de fazer algo realmente bom e esplêndido, algo duradouro, depois de ter errado e errado e comido o pão que o diabo amassou, de ter usado todas as drogas – todas não, as mais baratas –, depois de ter caído no abismo e armado um escândalo, depois de ter amado uma, duas, três vezes e o tempo foi passando, depois que ficou só e velho e depois de ter sido abandonado pelo pai e pelos irmãos – claro, não foi abandonado pela mãe –, depois que finalmente cresceu e olhou no espelho e se lembrou de seu pai lhe cobrando, “e o que foi que você fez?”, depois que perguntou a si mesmo, “cadê o dinheiro?”, depois que ligou pro seu amigo e ele respondeu tão frio, “estou em casa vendo o jogo”, depois da cheia no Manguaba e ele nem podia sair de casa, pra balada, pro trabalho, pra viajar de volta a sua antiga casa, então ele caiu em si, “preciso parar”, “dar um tempo é preciso”, “preciso voltar a cantar minhas canções e lhe pedir perdão”, “preciso de um casaco de couro preto pra me sentir importante, pra me resguardar do Inverno”, “preciso acreditar nisso”, “preciso disso”, “preciso de um beijo seu, uma resposta carinhosa ao telefone e atenção, puxa, eu preciso de atenção”, “preciso voltar a compor, sentir o seu hálito no meu rosto de manhã cedinho” e depois o sexo, não é, é tão bom sexo de manhã e depois tomar um banho e um café com frutas e pão e ovos e olhar nos olhos da pessoa amada e sorrir até sentir o peito inchado de esperança.