terça-feira, 6 de julho de 2010
Longe sem saber de Você
Quatro ou seis semanas sem lhe ver, sem ter mais nenhuma notícia sua, por um engano meu, sem número de telefone, sem o celular... Eu sei a cidade onde lhe encontrar, quero ir lá, passear, procurar por você, lhe esperar num bar, conversar com um e com outro e perguntar, “onde ele está”, ficar por ali na incerteza, uma hora você chegava e entrava e olhava pra mim – surpresa: “Ei, me paga uma cerveja!”
Pedaço de Mim
Anos 1990
Uma parte de mim que se foi
A outra aqui, dilacerada
Então, meu irmão
O que lhe restou além dos anéis?
– Chove na praia
Só porque estou aqui... Chato
Eu num tô nem aí
– Meu prato, arroz com feijão
A outra parte aqui
Meu consolo é você... Quem é você?
“Eu sou, eu sou...”
Uma parte de mim... Oh, nem sei onde estou
Será que ainda posso voltar
E ser o que era?
Depois da Cheia
Piscina, foto by Gal Monteiro, 1981
Depois de ter passado por tanta coisa ruim, tanto desassossego e o medo de crescer, de fazer algo realmente bom e esplêndido, algo duradouro, depois de ter errado e errado e comido o pão que o diabo amassou, de ter usado todas as drogas – todas não, as mais baratas –, depois de ter caído no abismo e armado um escândalo, depois de ter amado uma, duas, três vezes e o tempo foi passando, depois que ficou só e velho e depois de ter sido abandonado pelo pai e pelos irmãos – claro, não foi abandonado pela mãe –, depois que finalmente cresceu e olhou no espelho e se lembrou de seu pai lhe cobrando, “e o que foi que você fez?”, depois que perguntou a si mesmo, “cadê o dinheiro?”, depois que ligou pro seu amigo e ele respondeu tão frio, “estou em casa vendo o jogo”, depois da cheia no Manguaba e ele nem podia sair de casa, pra balada, pro trabalho, pra viajar de volta a sua antiga casa, então ele caiu em si, “preciso parar”, “dar um tempo é preciso”, “preciso voltar a cantar minhas canções e lhe pedir perdão”, “preciso de um casaco de couro preto pra me sentir importante, pra me resguardar do Inverno”, “preciso acreditar nisso”, “preciso disso”, “preciso de um beijo seu, uma resposta carinhosa ao telefone e atenção, puxa, eu preciso de atenção”, “preciso voltar a compor, sentir o seu hálito no meu rosto de manhã cedinho” e depois o sexo, não é, é tão bom sexo de manhã e depois tomar um banho e um café com frutas e pão e ovos e olhar nos olhos da pessoa amada e sorrir até sentir o peito inchado de esperança.
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