Páginas

quarta-feira, 8 de abril de 2020

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Elas me enlaçaram

A caça, não deixo rastro, mas afinal me enlaço. Elas me enlaçaram num cadafalso. – Ei, por que fui me lembrar disso agora? A morte me pedindo a cabeça, ali, estrangulada. Não tenha medo, é apenas um jogo de cintura, começar pela morte, entende, bem, vamos lá: O sol se punha, estávamos naquele momento dramático de fim de tarde, o luscofusco, a luz se indo, intensos raios acobreados, derradeiros, iluminando a paisagem funesta. O sol magnetizava o velho patamar e a forca – já consumada. Nessa hora extraordinária, retinha-se então, por força da luz, a vida: Parecíamos vivos! – Não, elas estavam vivas lá embaixo, assistindo a minha agonia... Eu não enxergava, eu estava morto, a cabeça dependurada, ó deus, mas isso é um sonho! (Thank’s my Lord).
Do livro (no prelo) Filmes eróticos e algumas Epifanias
Foto/ João Dionísio Freitas

terça-feira, 1 de novembro de 2016

No Passion

No momento certo voltamos: A nos reunir, como velhos amigos. De outro jeito será (a amizade). Cristalino por fim (o desejo). Agora: A paixão: sem opressões – se tiver a fim. Sem prisões ou pressões íntimas: Negações interiores. De um jeito ou de outro, ambos, vamos nos posicionar. De igual pra igual: Os mesmos ideais, a bossa toda, okay? Sem interesses: Sem conflito de classe. Vaidade apenas casual: Consciente de si e orgulhoso: Mas propriamente equilibrado: Cordial: diálogo normal legítimo não excludente. Esse o sistema. Fora toda conversação um dia: Exigente e rigorosa: deliciosa. Afirmando-se: Nós dois – me pareceu acima do bem e do mal (do que era tudo). Nada artificial: Séria a conversa, contudo simpática: Falação espirituosa. charmosa (sexy): Conquista. Era algo mais honesto e franco pra dizer a verdade. Enfim desencanado: Esquecido do berço colonial: Barroco: universal etecetera e tal. Ganhamos experiências: Tornamo-nos funcionais. Não desperdiçaremos sabedoria no futuro: A autoestima – não a estrague. Inflando-se: Diminuindo-se: culpando-se. Julgando: E muito menos corte a energia: A luz do dia: o brilho lunar. O Mar. A tranquilidade: Duelos entre si anymore. – Jamais, meu rapaz. Experimentamos coisas diferentes, não? Compulsivamente: Ousados: e mortos de saudade. Assim eu espero: Aí a gente faz a festa: a farra. A fala mansa cantada: Burilada: divertida inteligente. Amorosa? Dialética. Leal: Na paz geral, pode ser? Em sincronicidade.
Epílogo
Foto/ Claudio Manoel Duarte Os guerreiros do jogo no ano que vem: Cavaleiros de espadas: eu – e você também (provavelmente). Terá decifrado a charada e conquistado Tebas: Alcançando por bem uma grande fortuna: o mundo, as cartas do tarô, você já caminhou o bastante? Chamados à luta venceremos. Uma coroação sagrada: O rei de espadas. Tornando-se copas: E a rainha de espadas apartada: na guerra sozinha. Buscando: Reconciliação. Com o mundo, com deus, contigo: Renascidos. O julgamento. O dia do juízo final: Reerguidos: regenerados. Ás de copas recuperado: O rei de copas virou paus. Ás criativo: Empreendedor afinal. Um e outro cada qual com uma arte: O ofício: acima do amor. Para além do vício.

terça-feira, 8 de julho de 2014

AMOR MADURO

Não há riscos nessa operação – o amor é leve assim maduro, descarta equívocos, malcriações. Por que vou choramingar a essa altura do campeonato? Da cisma ao trunfo: Uma escolha justa, pois certamente deixarei de amar – essa criatura tímida e covarde, arredia tornando-se mesquinha, obsoleta. Aguardo o fim: O incidente decisivo que fará a bela – donzela! – dar meia volta e assumir o jogo – tornando tudo mais simples, mais firme. Recuperando aquele meu velho amor vadio (e sadio)...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

É Mágica

Que maravilha a saudade De que afinal você soube ter adquirido algo nessa vida toda Algo bem colocado e de valor Como um segredo que vem arraigado Que você carregou como uma estrela no peito Tudo muito bem dito e bem feito As luzes da aurora boreal O canal aberto pelo qual você corre a caiaque e a plenos voos de arte Quantos mistérios: E o fascínio de escrever sobre o que importa Na hora exata – orgulhoso Assim vai (Assim vem...) O tesouro cobiçado A estrela do mar: Não adianta contar os dias, as horas Tudo tem o tempo certo As pedras no deserto: O acerto de contas Adeus

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os Dois Caixões

Os dois caixões dos meus irmãos – de ferro e madeira dura –, como os ossos do meu pai (exumados), os dois caixões à luz do dia da manhã, os dois santinhos em cima (as fotos) e os ossos do meu pai, postos no saco – ao lado. Os caixões tampados logo mais içados à cova da minha avó: E do meu pai, dois dentes cravados na caveira. Minha vó também no saco ao lado. E o menino brincava com os outros meninos – em meio aos pais. Os caixões lacrados, os ossos queimados – a arcada dentária não: talvez, eu não vi. Meus irmãos mortos os caixões duros de madeira: E ferro. No dia claro e depois uma chuvinha. Cemitério, chuvinha, fui pra casa ficar com mamãe.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Minha Vida com Você

Vontade de fumar um cigarro – já não compro mais o maço, um maço me faz mal: um somente no retalho e fode o humor e a saúde. De mal com o mundo porque fumei demais: E agora: já não fumo, quero fumar um cigarro, bem, isso era uma desculpa pra começar a falar com você, sabe, porque... Eu estou contente com as coisas todas: E com a solidão, com você ao meu lado às vezes a noite toda: eu gosto.
De conversar e jogar a conversa fora e ficar olhando assim, batendo no seu ombro, “poxa, não era pra ser diferente”. Então o cigarro: Não tenho mais em mente, isso, vendo a Rita pelo YouTube irada, “a polícia, meu, como é isso? Vão se foder”, Dylan nos meus fones me absorvendo: ‘I lost the ring... Blame it on a simple twist of fate’. Eu estava cheio da vida e então ela veio de novo, inteirinha: Pra ser amada e idolatrada – a vida a minha vida a vida com você, que tal?