quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Buraqueira
No desvario, bêbado e macio... Foto by Rato
Lá estou eu metido na buraqueira, no desvario, na ansiedade do sexo, bêbado e estúpido. Você – passou ao largo – só me disse: Gosto muito de você. Eu lhe abracei, afaguei-lhe o cabelo curto e macio, e respondi: O mesmo. E depois, caí na buraqueira. Que horror. Uma favela à beira-mar, um barraco de esquina montado a tabuas e papelão, e varas segurando a parede. O que não se faz por drogas: e por sexo. Todo meu dinheiro ali, esvaindo-se, correndo por entre mãos e dedos queimados na lata. Que horror. A droga ordinária e pesada, o sexo pra daqui a pouco, sujo, disperso, ó, a noite que se fez dia, e o animal imundo drogado e bêbado, favelado, mesquinho, fortuito como uma cadela no cio. Ordinário.
Você – era tudo o que eu queria, ficar com você, mas – foi embora com o outro poeta, me deixando alheio, morno, ansioso, de pavio curto, não, você não tem culpa de nada. Meti os pés pelas mãos e torrei todo o meu dinheiro em porcaria, numa vida dupla e maldosa, cheia de enganos, eu sou assim, aberto, estranho, fuleiro, qualquer amor me seduz... Como um ladrão na cruz, choramingando migalhas, as mãos rasgadas pedindo a morte, o sangue cevando a terra – ainda bem, ao menos isso, o meu corpo, não desperdiço, ó estrupício! Sou o pobre diabo revestido em pele de cordeiro, fazendo-se de morto pra atacar, pra cobrar uma dívida de sangue, de gozo, ali, no barraco na praia, a boca seca faminta, os beiços sujos de cinza, nenhum beijo, mas o ardor (fatal) da pedra queimando, um fio de pentelho preso no dente, o sêmen escorrendo, o dia nascendo, a morte, a morte! Chega, vampiro, recolhe-se ao buraco que cavasse a terra, não há tempo para choro ou vela, está morto, acabado, vai embora, sua hora chegou. Adeus.
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