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sábado, 12 de novembro de 2011

Vamos fugir

Vamos fugir, eu mesmo e a minha consciência: Vamos fugir pra bem longe daqui, pras matas verdejantes próximas ao rio Manguaba: e depois a gente deságua no mar, num catamarã pintado de verde, azul e amarelo, com frisos pretos e faróis acesos à tardinha, no por do sol. Eu e minha consciência, meus pés, meus braços e mãos: E a minha cabeça – o meu espírito vai junto: às vezes ele se desliga e sobe até uns quinze ou vinte metros olhando lá de cima e se apavora com medo de cair e volta.
Mas estamos em busca de um lugar ao sol pra ficar e colher baronesas na água: Na terra construir uma casa com sala, cozinha, varanda e um quarto no sobrado com toilette: a janela de frente pro rio. De manhã logo cedinho ligamos o rádio e vamos pescando notícia, conversando com os moradores e a polícia, “o prefeito não estava, a guarda municipal ficou atolada na estrada”, não, agora é Verão.
Mas eu posso descolar um cantinho legal fora da alta temporada, yeah, vamos fugir, bebê, não dá mais pra continuar assim somente vendo o tempo passar e compondo aforismos. Não há motivo pra ficar assustado com a fuga se ela se faz à rota: Abri a porta: as bananeiras começam a parir na várzea, o pescador acena detrás do raio de luz, na outra margem. As nuvens crescem resplandescendo no céu como oráculo e ornáculo. O mundo é perfeito, “pronto, estou fora, estamos todos bem, eu, minha consciência, meu corpo e o meu orgulho”, bem na hora, então: Pode ser agora.