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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Corpus Christi


Inexatamente: a cada passo que dou, mas não pelo fio da calçada e sim à margem da rua, prestes a cair no buraco: é dessa forma que vivo – como se não houvesse um leme, um freio, uma direção. Bem, há uma direção que é deus e por ela me conduzo, alegremente. Assim não caio no buraco, pulo, salto, corro e danço no asfalto, e nos caminhos de terra e várzeas, pelos lagos e rios e pelo ar. No fundo do mar, também, em que me lanço como âncora antiga e pesada, cheia de sinuosidade e de uma maldade preciosa, que é crosta, ferrugem e resistência. Graças a deus, graças a deus estou vivo, mesmo caminhando assim, de sobressalto, turvo, girando em torno de mim mesmo como um peão louco e infantil, fazendo graça, cativando as pessoas e mimando elas, e irritando outras, arrancando a pele de uns em carne viva.

Casamento na Roça


“Quem vai rezar a missa? Você é que vai ser o padre?”, “Ah, você é um pervertido!”, e assim foi a nossa conversa, sobre um casamento na família, e os escândalos – o escândalo é sagrado, às vezes, como a ira de Jesus –, mas agora eu estou casado, ou quase, quer dizer, eu estou firme e forte. Pisando na terra, sentindo a sua quentura doce, a parte molhada e a parte arenosa, as águas de cima abaixo, e depois até a merda é normal, aguente o tranco. Os temporais de Junho, o Santo Antônio e a cheia no pequeno Manguaba perto de casa, os namorados em êxtase, a vida tem sabor de cerveja, e a teia se refazendo, outra vez, o ciclo até acabar, mas eu não me mato. Fui tecendo minha própria rede e o casamento, afinal, o amor, isso recupera e torna um homem mais maduro. Seja o que for.