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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os Dois Caixões

Os dois caixões dos meus irmãos – de ferro e madeira dura –, como os ossos do meu pai (exumados), os dois caixões à luz do dia da manhã, os dois santinhos em cima (as fotos) e os ossos do meu pai, postos no saco – ao lado. Os caixões tampados logo mais içados à cova da minha avó: E do meu pai, dois dentes cravados na caveira. Minha vó também no saco ao lado. E o menino brincava com os outros meninos – em meio aos pais. Os caixões lacrados, os ossos queimados – a arcada dentária não: talvez, eu não vi. Meus irmãos mortos os caixões duros de madeira: E ferro. No dia claro e depois uma chuvinha. Cemitério, chuvinha, fui pra casa ficar com mamãe.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Minha Vida com Você

Vontade de fumar um cigarro – já não compro mais o maço, um maço me faz mal: um somente no retalho e fode o humor e a saúde. De mal com o mundo porque fumei demais: E agora: já não fumo, quero fumar um cigarro, bem, isso era uma desculpa pra começar a falar com você, sabe, porque... Eu estou contente com as coisas todas: E com a solidão, com você ao meu lado às vezes a noite toda: eu gosto.
De conversar e jogar a conversa fora e ficar olhando assim, batendo no seu ombro, “poxa, não era pra ser diferente”. Então o cigarro: Não tenho mais em mente, isso, vendo a Rita pelo YouTube irada, “a polícia, meu, como é isso? Vão se foder”, Dylan nos meus fones me absorvendo: ‘I lost the ring... Blame it on a simple twist of fate’. Eu estava cheio da vida e então ela veio de novo, inteirinha: Pra ser amada e idolatrada – a vida a minha vida a vida com você, que tal?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Amor vingou

O amor há de vingar
Depois de anos sentado à soleira esperando
O amor que vai se formando
Ao largo
Enquanto fumo cigarros e saio por aí aguardando
Aprontando
O amor que se formou e eu nem percebi
(Não ouvia os sussurros dele, o chamado)
Seu enlace apertando se chegando
E eu largado assim
Mas já percebendo e entendendo
Querendo
Você chegou então me tomou nos braços
Sem que eu dissesse nada – nem pude
O amor vingou
Era isso – todas as histórias já vividas
E rompidas
Românticas ou não
Perigosas algumas – voluntariosas
Agora que estou assim todo protegido
Couraçado – o amor a ferro blindado
Tão feliz eu sou fumando cigarros ainda
À soleira – olhando pra cima e pensando alto
“Agora sim, estou salvo”

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Amor Tosco

Amor bruto e tosco, com os urubus comendo a carniça e os ossos dos animais perdidos sob os seus pés, não sei, isso é um amor? Parece que sim, mesmo assim agredido pela natureza dele – bruta e determinada nas más condições... Mas será tão má assim? Bem, a visão dos urubus não foi romântica, “nunca mais quero vir aqui outra vez”.
Mas é o amor possível: E é somente um amor apenas – tenho outros na manga, tomara que vingue!