Páginas

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Que o Diabo me carregue

Eu não sei em que momento o diabo me carregou, quando foi que deixei de sentir ou de perceber o meu espírito e a minha própria pessoa – onde estavam o meu espírito e a minha consciência transparente e desbravadora quando o imundo me pegou pelo braço e me levou consigo voando sem que me desse conta das horas e das ruas e da paisagem urbana? Eu me voltei e lá estava eu de frente para o guarda: Ele me deu um soco, puxou minha perna e pisou com o coturno na minha cara. Não, isso não aconteceu – mas o que foi que rolou nessas horas em que voava pela cidade nos braços de satanás? “Boa noite, Cinderela”, me cumprimentou o padre, vestido de gala, com a batina preta justa e elegante, à porta da catedral. Eu não estava só, lá dentro uma multidão de fiéis se ajoelhava e de cabeça baixa orava o pai nosso. “Em nome do pai, do filho e do espírito”, valei-me meu santo Antônio, a vida ficou difícil e besta e o tempo precisa correr pra alcançar o topo da roda, ó, minha pequena fortuna, a gincana chega ao arremate: Quem sou eu, pergunta Jasão à época da grande tragédia. Eu paguei o preço e calei a esfinge – saí com o olho furado, o que mais podia querer você de mim? Sei bem porque isso acontece, o diabo me carregando sem garantia de retorno e a roda girando, às vezes homem, às vezes besta-fera – eu podia fazer um esquema e explicar tudo direitinho, mas pra quem, pra minha alma desolada e chorosa detonada por essas quedas todas?

Nenhum comentário: