foto: Willians Valente
Maravilhas da Antiguidade, escritas na pedra e no couro, muita coisa relegada, mas que foi resgatada por um impulso forte e pelos esforços diários e noturnos: Não esqueça de anotar as noites ruins, solitárias, vazias: como um filme de Khoury ou senão dias e noites de sexo cerebral – ou o não-sexo, que é o que acontece sempre... Mas voltando às histórias do passado remoto, ali estão as causas, as predestinações, o caminho trilhado desde o começo: Nós todos temos um início, um meio e um fim: eu estou no meio ou no fim do meio já que o meio também tem o seu começo... Geralmente é assim:
1-2-3: Início, compreendendo o início do início, oposição ao início (meio do início) e fim ou realização do início: do momento que veio à luz até os 30 anos;
4-5-6: Oposição (meio), seguindo a regra, início de oposição, oposição à oposição e realização (fim) da oposição: dos 31 aos 60 anos;
7-8-9: Realização, dos 61 aos 90 em média, mantendo ad eternum o principio: início, meio e fim.
domingo, 27 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
(7) É o que Eu digo sempre
Há quanto tempo assim, sem vontade de dizer nada, esperando, afinal, que você me peça em casamento. É muito tarde pra casar, não penso mais nisso, talvez um compromisso, o que acha? Mas nem isso, bem, não quero saber, não quero falar de nada disso, estou exausto, nada que me conforte ou me console, quantas vezes você me abraçou e me tomou nos braços, me tocando mesmo de verdade, esquece, não estou reclamando de nada, só estou... Resmungando. Eu, o cara imprestável pra se relacionar, não sabe cativar, não prende ninguém ao seu lado, eita, bicho enjoado, tanto que eu faço pra lhe agradar, chupando sua nuca, em silêncio, pra dizer baixinho, “eu te amo”.
terça-feira, 8 de março de 2011
(6) A Roda da Fortuna
O desejo de voltar atrás, mas não há nada que se possa fazer: estou bem, relendo os meus pensamentos gravados na pedra: um hábito antigo de meus ancestrais, escreviam tudo na pedra e no couro dos animais. Mas escreviam pouco, maior era o desejo de reprodução da prole, e de matar, ah, espero que esses desejos sobrevivam a minha herança sertaneja, sem esperança alguma de fortuna, as pedras rachando ao sol desértico, o capim seco do pasto, os bichos morrendo, e as palavras, as minhas palavras, é tudo o que tenho.
(5) Cerveja e Morango
De volta ao espaço lúdico de um dos meus sete corpos, à atmosfera musical dessa minha criatura e aos devaneios em si, quer dizer, à Literatura! Nada mais justo depois de tanto derrame de sangue... Agora os anjos do Senhor derramam sobre o meu rosto filtro de puro amor solar, e o brilho das estrelas. O diabo se irrita e rodopia tanto que dá pena, minha pele recupera o vigor, cicatrizes desaparecem, o calombo, as coisas ganham outro sabor, como sabor de cerveja e morango.
domingo, 6 de março de 2011
(4) Corpus Christi
Inexatamente, a cada passo que dou, não pelo fio da calçada e sim à margem da rua, prestes a cair no buraco. É dessa forma que vivo, como se não houvesse um leme, um freio, uma direção: Há uma direção que é deus e por ela me conduzo alegremente: assim não caio no buraco, pulo, salto, corro e danço no asfalto. E por esses caminhos de terra, várzeas e rios e lagos: E pelo ar, no fundo do mar também em que me lanço como âncora antiga e pesada, cheia de sinuosidade: e de uma maldade preciosa que é crosta, ferrugem e resistência. Graças a deus, graças a deus estou vivo, mesmo caminhando assim de sobressalto, turvo, girando em torno de si mesmo como um peão louco e infantil, fazendo graça, cativando as pessoas e mimando elas: E irritando outras, arrancando a pele de uns em carne viva.
(3) Doce Vida de Regalo e Prazer
Assustada e perdida na vida
A essa altura da vida
E ele lá do outro lado do rio, plantando banana
Cheio de compostura
Ela também cheia de vida
Mas perdida, esperando ele passar
– Ele vai te amar um dia, querida
Pode apostar, vai ser bom pros dois
Então ela se pôs a criar, fazer crochê, tricô
E plantou rosas
Ah, as mulheres, elas só querem amar
E gostar muito de você, pode apostar
Então o mundo deu passagem
Ela voltou a olhar pra frente
As bananeiras deram fruto
O astral mudou, o dinheiro entrou
Tornaram-se casal, ela aqui
Ele do outro lado do rio
Pescando tilápias, arriscando a vida na noite
Bêbado feito um gambá
Gostoso, que bebedeira gostosa
Ele tomando todas, sem ligar
Ela junto, cuidando
quarta-feira, 2 de março de 2011
(2) Dias de Glória
Do livro "Album de Família"
Os dias dramáticos de luta pela liberdade na terra: na água e no ar, na mente, no sangue dos ancestrais: Calabar, o deus morto, o herói a ferro e fogo lá atrás. Dias mágicos, dias práticos, grandes fantásticos dias de guerra atingindo a carne: o fio da navalha, a correnteza, ó Manguaba, ondas vão e vêm sob os motores, os braços dos meus amores, meu rio, meus super-heróis.
O barco na retaguarda afundando em chamas, a vida clama incerta, um canto fúnebre no alto da colina, o grito de guerra cá embaixo, meu próprio coração um tambor. Esqueço o tempo, o espaço onde estou, a vida tem sabor de cerveja, e a recompensa do banho livre, no fim da estrada, a estrada do rei, meu rei, sabe o que mais, esses dias são gloriosos!
(1) O que disse o Pai em seu Leito de Morte
Do livro "Álbum de Família"
A dura realidade da vida
Me disse o pai no leito de morte
Uma escura via à descida
O vislumbre da subida
A vida depois da vida depois da vida
“A sutura da minha ferida”
Apontou o pai – o seu corpo – àquela altura da vida
A deusa vencida
A despedida...
Olhei pra trás e não o vi mais
Adonai!
Adonai!
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