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terça-feira, 6 de julho de 2010

Depois da Cheia


Piscina, foto by Gal Monteiro, 1981










Depois de ter passado por tanta coisa ruim, tanto desassossego e o medo de crescer, de fazer algo realmente bom e esplêndido, algo duradouro, depois de ter errado e errado e comido o pão que o diabo amassou, de ter usado todas as drogas – todas não, as mais baratas –, depois de ter caído no abismo e armado um escândalo, depois de ter amado uma, duas, três vezes e o tempo foi passando, depois que ficou só e velho e depois de ter sido abandonado pelo pai e pelos irmãos – claro, não foi abandonado pela mãe –, depois que finalmente cresceu e olhou no espelho e se lembrou de seu pai lhe cobrando, “e o que foi que você fez?”, depois que perguntou a si mesmo, “cadê o dinheiro?”, depois que ligou pro seu amigo e ele respondeu tão frio, “estou em casa vendo o jogo”, depois da cheia no Manguaba e ele nem podia sair de casa, pra balada, pro trabalho, pra viajar de volta a sua antiga casa, então ele caiu em si, “preciso parar”, “dar um tempo é preciso”, “preciso voltar a cantar minhas canções e lhe pedir perdão”, “preciso de um casaco de couro preto pra me sentir importante, pra me resguardar do Inverno”, “preciso acreditar nisso”, “preciso disso”, “preciso de um beijo seu, uma resposta carinhosa ao telefone e atenção, puxa, eu preciso de atenção”, “preciso voltar a compor, sentir o seu hálito no meu rosto de manhã cedinho” e depois o sexo, não é, é tão bom sexo de manhã e depois tomar um banho e um café com frutas e pão e ovos e olhar nos olhos da pessoa amada e sorrir até sentir o peito inchado de esperança.

2 comentários:

Roberto Pires disse...

Que transbordamento de emoções... Se eu não te conhecesse até, talvez, pudesse estranhar ou nem entender. Mas compreendo totalmente - ou quase - o que já é bastante. Não "o" bastante, mas já é solidário. Amei a palavra desassossego, achei uma inflação de "esses", mas por que não gastar uma consoante tão sinuosa? Faltou você falar no cuscuz, pela manhã pode aumentar a sensação de carinho e de pertencimento... Saudades, my friend. My crazy friend. Mad dog, perhaps. Sorry. That's a joke. Love you, forever.

Os Anos que vivemos cantando Rock disse...

Não sei, bob, querido, sobre o cuscuz, sim, ele favorece a esse aconchego do café da manhã com a pessoa amada (você é uma pessoa amada), mas botar essas duas sílabas com 'u', sei lá, muda muito o ritmo, vou dar uma olhada depois... bem, o q mais eu bati com a cabeça foi escrever 'da pessoa amada', podendo simplesmente dizer 'dele', "olhar nos olhos dele", o q acha? mas o texto, é ilegível ou quase (incompreensível...) para as outras pessoas? Waaaaaal...
loves,
sebage