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quarta-feira, 25 de março de 2009

O Povo contra o Rato



Um homem disputa a sua casa com um rato: A maconha e todo cigarro e cada pedaço de queijo camuflado na geladeira, a manteiga, grãos – cozidos, crus – do arroz esquecido na mesa, entocado no armário, até as meias e calças: Batalha infernal! Como se ali o infame houvesse deixado rastro: Diabo de afiados molares em tão pequeno horrendo inabalável invasor, ele o vampiro, na monta de roedor, venenoso intruso, ele o sanguessuga, na pele do perigoso visitante, execrável indesejável que me põe neste aviltante estado de horror, ah, inesperado pavor!

Deixo acesa a luz à madrugada, a fria inevitável garoa ou terrífico chuvisco de verão, desprezível solidão, o silêncio do vento, rumores, e a mudança do tempo, entes noturnos dementes a ruminar seus podres dentes, criatura doente eu mesmo, a um passo em falso, a farsa do insolente: As folhas ao relento, os pingos da chuva, o telhado sujo e quebrado, um velho fantasma de vigília e desespero rondando o quarto, eu insone acuado, afeito ao susto, à sombra, à pena de escabroso e ditoso escritor. E assim fez-se o cerco, epílogo de sinistro romanceiro ou lamentoso prenúncio medieval, a renúncia, aliança barroca, histórias caducas de terror e suspense sobrenatural. O herói romântico de meia-idade, interplanetário...

E o bicho astral lendário asqueroso e estranho mito zodiacal, ícone primeiro, fabuloso herói astral pioneiro da antiga roda oriental ou o horóscopo chinês. Criatura indecente, má persona, monstrengo decadente, ó arcaico predador a espreitar os barcos da Transilvânia – o poderoso cantor vomitando baldes na ante-sala... Justiça cruel e luta desigual e vexatória, um homem, a rotatória, o ratinho celerado já a servir-se dos meus cabelos, demônio!

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